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Quatro Perspectivas para a Transformação do SNS

16 de agosto de 2024

Reflexões das Quatro Mesas do World Café do Think Tank "SNS de Contas Certas"

No final da sessão os moderadores de cada mesa realizaram as apresentações das principais ideias debatidas e respetivas conclusões.

Reflexões da Mesa 1 - Modelos Inovadores de Gestão da Doença Crónica e Cuidados Paliativos

Moderada por Delfim Rodrigues. Ministério da Saúde, Coordenador do Programa Hospitalização Domiciliária


No 3º Plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, Delfim Rodrigues, moderador da Mesa 1, liderou uma discussão essencial sobre modelos inovadores na gestão da doença crónica e cuidados paliativos. A conversa abordou temas centrais que desafiam a forma como entendemos e praticamos a prestação de cuidados de saúde, focando-se em como a saúde deve ser vista como um serviço essencial ao cidadão, e não como uma indústria.


Saúde como Serviço e Não Como Indústria

Um dos principais pontos de discussão foi a diferenciação entre a saúde como serviço e a saúde como indústria. Delfim Rodrigues e os participantes sublinharam que a saúde deve ser encarada como um serviço centrado no bem-estar dos cidadãos, onde o principal objetivo é cuidar e melhorar a qualidade de vida, ao contrário de uma indústria que visa o lucro. Este enfoque humanizado é fundamental para reformar o sistema de saúde de forma a colocá-lo verdadeiramente ao serviço da população.


Cuidados Centrados no Cidadão

Durante a mesa, destacou-se a necessidade de promover cuidados centrados no cidadão, com um forte enfoque no autocuidado e na telemonitorização. Foi discutida a introdução de tecnologias inovadoras, como assistentes virtuais de inteligência artificial (IA), que podem auxiliar os cidadãos na gestão da sua saúde diária. Um exemplo citado foi a "Maria", uma assistente virtual usada em seguros de assistência em viagem, que tem o potencial de resolver problemas de saúde remotamente, mostrando como a tecnologia pode ser um aliado poderoso na prestação de cuidados.


Digitalização na Área da Saúde

Outro tema de destaque foi a digitalização na saúde. A necessidade de integrar a tecnologia digital nos processos de cuidados de saúde foi considerada crucial para o futuro do SNS. A digitalização não só facilita o autocuidado e a telemonitorização, como também capacita as famílias e os doentes através da literacia digital. A introdução de planos individuais de cuidados e a prática do autocuidado, já comuns em regiões como a Catalunha, foram apontadas como práticas exemplares que Portugal poderia adotar.


Desafios das Doenças Crónicas em Portugal

O crescimento das doenças crónicas entre a população portuguesa foi outro ponto alarmante discutido na mesa. Um inquérito do Instituto Ricardo Jorge revelou que 39,7% das pessoas inquiridas sofrem de pelo menos uma doença crónica, e que estas condições estão a surgir cada vez mais cedo, afetando até a população jovem. Este dado sublinha a necessidade urgente de adotar modelos de gestão da saúde mais eficazes e preventivos.


O Exemplo da Dinamarca

Como referência para um modelo de sucesso, foi mencionado o exemplo da Dinamarca, onde os cuidados de saúde são descentralizados para as autarquias locais quando um cidadão atinge os 65 anos. Esta descentralização geográfica permite uma gestão mais personalizada e eficaz dos cuidados, adaptada às necessidades específicas de cada comunidade. A Dinamarca destaca-se, assim, como um exemplo a ser considerado para a reforma do sistema de saúde português.


Conclusão

A apresentação de Delfim Rodrigues concluiu que para melhorar a gestão da doença crónica e dos cuidados paliativos em Portugal, é essencial promover o autocuidado, a telemonitorização e a implementação de planos individuais de cuidados. A digitalização da saúde e a capacitação dos cidadãos e das suas famílias em literacia digital também são cruciais. Finalmente, a descentralização geográfica, como exemplificado pela Dinamarca, pode ser um caminho importante para tornar os cuidados de saúde mais eficientes e centrados nas necessidades dos cidadãos.

Este debate trouxe à tona a importância de adotar uma visão inovadora e humanizada para a gestão da saúde, assegurando que as tecnologias emergentes sejam integradas de forma que beneficiem todos os envolvidos, especialmente os doentes crónicos.

Resumo da Apresentação na Mesa 2 Tecnologia e Saúde Digital

Moderada por Manuel Bragança Pereira, Diretor Médico da Hope Care


Durante a Mesa 2 do 3º Plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, Manuel Bragança Pereira, atuando como moderador e relator, apresentou as conclusões discutidas pelo grupo de trabalho sobre o papel da tecnologia na saúde. O grupo identificou seis medidas essenciais para a evolução da saúde digital em Portugal.


A primeira medida destacou a necessidade de reforçar a estratégia de saúde digital, atualmente indefinida, propondo a criação de uma arquitetura comum que facilite a integração de diferentes entidades. Em segundo lugar, foi ressaltada a importância de uma estratégia de literacia em saúde digital, visando alinhar a sociedade com as novas tecnologias e capacitar os cidadãos para o seu uso eficaz na gestão da saúde.


O grupo também discutiu a necessidade de consolidar um modelo de financiamento baseado em resultados, especialmente focado na qualidade de vida dos pacientes, em vez de apenas na produção. As questões éticas e regulamentares foram outro ponto de discussão, com ênfase na monitorização e prevenção de quebras de segurança e confidencialidade.


Por fim, foi sublinhada a importância de preservar a humanização dos cuidados de saúde, garantindo que a digitalização não crie distâncias entre profissionais de saúde e pacientes. Estas conclusões refletem a busca por um equilíbrio entre inovação tecnológica e a manutenção de cuidados humanizados no SNS.

Resumo da Apresentação na Mesa 3 - Políticas Públicas e Financiamento

Moderada por Carla Gouveia (USF-AN)


Na Mesa 3, que abordou as políticas públicas e o financiamento na gestão de doenças crónicas e cuidados paliativos, os participantes centraram-se mais na gestão dos cuidados do que propriamente em políticas e financiamento. As principais conclusões incluem a necessidade de adaptar os recursos às diferentes fases da doença crónica, como na fase terminal, onde certos exames ou tratamentos podem não ser adequados.


Foi também enfatizada a importância de centrar os resultados nas necessidades individuais dos doentes e suas famílias, garantindo que os cuidados sejam personalizados. Outro ponto crucial foi a criação de planos assistenciais integrados, onde um gestor de caso poderia ajudar o doente a navegar pelos diferentes estágios e instituições, assegurando uma transição suave de cuidados.


A comunicação eficaz entre todos os profissionais envolvidos no processo de cuidados e a valorização dos cuidadores informais foram destacados como essenciais para personalizar os cuidados e otimizar recursos. A gestão local, envolvendo determinantes sociais e ambientais e a integração do setor social com o de saúde, foi apontada como uma estratégia importante para fornecer cuidados mais adequados à comunidade.


Por fim, sublinhou-se a necessidade de estabelecer objetivos mensuráveis e testar projetos piloto para avaliar sua eficácia, assegurando que as ideias realmente resultem em melhorias na saúde e possam ser replicadas e integradas no sistema de saúde em geral.

Reflexões da Mesa 4 sobre a Participação Ativa do Paciente na Gestão da Doença Crónica e Cuidados Paliativos

Moderada por Alexandre Guedes da Silva, Presidente da SPEM


No 3º Plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, Alexandre Guedes da Silva, Presidente da Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla (SPEM), moderou a Mesa 1, que focou na participação do paciente e da comunidade na gestão da doença crónica e nos cuidados paliativos. As conclusões apresentadas refletem um esforço coletivo do grupo de trabalho, que discutiu a importância de centrar a gestão da saúde no doente, em vez de na doença.


Foco no Doente e não na Doença

Uma das principais conclusões da mesa foi a necessidade de gerir doentes crónicos de forma holística, em vez de focar apenas na gestão das doenças crónicas. Isso implica considerar os cuidados paliativos como parte integrante de um processo contínuo de cuidados, que varia ao longo das diferentes fases da vida do doente. Este modelo visa não apenas prolongar a vida, mas garantir que os anos adicionais sejam vividos com qualidade.


Participação Ativa e Autocuidado

O grupo de trabalho destacou a importância de transformar o doente de um participante passivo em um agente ativo no sistema de saúde. Isso envolve capacitar os doentes e suas famílias em literacia em saúde, permitindo-lhes assumir um papel mais ativo no seu autocuidado. A educação e o apoio são essenciais para garantir que o autocuidado seja realizado de maneira eficaz e segura.


Envolvimento da Comunidade e Tecnologia

Outro ponto discutido foi o papel crucial da comunidade e dos cuidadores informais. A gestão da doença crónica deve envolver não só o doente e os profissionais de saúde, mas também a família, os cuidadores e a comunidade mais ampla. A tecnologia, incluindo a inteligência artificial, foi identificada como um meio para facilitar esse envolvimento e assegurar a continuidade dos cuidados. A colaboração com autarquias e outras entidades locais foi vista como essencial para criar um sistema de apoio robusto e eficaz.


Medir Valor, Não Quantidade

A mesa também sublinhou a importância de focar-se no valor das intervenções em saúde, em vez de na quantidade de serviços prestados. O sucesso do sistema de saúde deve ser medido pelo impacto das suas ações na qualidade de vida dos doentes, garantindo que as intervenções sejam verdadeiramente benéficas.


Conclusão

As conclusões do grupo de trabalho moderado por Alexandre Guedes da Silva reforçam a necessidade de uma abordagem centrada no doente para a gestão da doença crónica e cuidados paliativos. Capacitar os doentes, integrar a tecnologia de forma eficaz, e garantir que o valor das intervenções seja o principal critério de sucesso são passos essenciais para assegurar que o Sistema Nacional de Saúde possa proporcionar cuidados de alta qualidade, sustentáveis e centrados na pessoa.

Para aceder ao Think Tank do Podcast SNS de Contas Certas

Sobre o Think Tank SNS de Contas Certas


O Think Tank SNS de Contas Certas é uma iniciativa conjunta do Fórum Hospital do Futuro e Digital Health Portugal, em colaboração com diversos parceiros, com o objetivo de promover a sustentabilidade e a inovação no Sistema Nacional de Saúde (SNS).


Com foco na criação de estratégias práticas e adaptadas às necessidades locais, o Think Tank reúne decisores políticos, especialistas, investigadores e líderes de opinião para debater os grandes desafios e oportunidades do SNS. Desde a coordenação intergovernamental à descentralização de competências, passando pela integração dos setores público, privado e social, somos um espaço de reflexão e cocriação para a transformação do SNS.


Através de plenários, entrevistas e estudos continuos, esta iniciativa visa não apenas identificar boas práticas, mas também implementar soluções que promovam a equidade, eficiência e proximidade no acesso aos cuidados de saúde.


Saiba mais em www.saudesustentavel.pt.

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